Dois assuntos atraem profundamente a natureza humana. São o Verbo e a Criação. Os humanos querem chegar a eles. Sentir o seu perfume. A questão está em que a civilização não vive o contexto do Verbo. O nosso Mundo não gira em torno da subjetividade. O nosso propósito é o capital. Ele é o condutor das nossas coisas. Não existe igreja nem indústria se não satisfazer a lei do lucro. Sob seu propósito é que devemos nos erguer aos sentidos de Verbo e Criação.
Quanto à Criação, embora estejamos longe de seu sentido maior, uma caminhada foi feita. O desenvolvimento científico nos levou a conhecer o sentido de criação. Transformamos florestas em cidades, fome em plantações, limitações físicas em tecnologias. A criação do homem toma conta dos acontecimentos.
O terceiro milênio nos abre ao extraordinário sentido do conhecimento. A História chega ao seu momento de Era do Conhecimento. A da magia da folha em branco. A partir de símbolos depositados sobre uma folha estabelecemos correlações das mais misteriosas. Entramos na época em que o mundo natural é substituído pelo da folha em branco. Seja a de um caderno, computador, tela de cinema, outros – sobre elas o homem estabelece uma magia que nem ele próprio sabe de onde vem. Certamente algo mais do que as adaptações de Darwin. Ao homem foi dado o direito de contato com o Verbo. Algo, darwinianamente estranho, mas que não podemos deixar de admitir.
Esse é o século 21. O momento histórico quando uma espécie nascida num daqueles planetas rochosos com água que o Universo constrói, consegue dar um salto extraordinário. Essa espécie humana ultrapassa a um novo caminho evolutivo. O de sair do virtual para o natural. Da folha em branco para a construção de plataformas espaciais.
Estamos chegando ao momento de se abrir ao extraordinário de que o Universo não é feito por átomos e estrelas. Existe algo maior. Há uma subjetivação a ser detectada. A nossa ciência chama isso de modelos. A Antiguidade nos fala da presença do Verbo. Entretanto embora o Verbo esteja impregnado nas nascenças do homem através dos Livros Sagrados a vida cotidiana de um homem é assentada sobre o capital. Nas suas correntezas fazemos nosso destino, ao menos o de nosso mês.
Nesta premissa capitalista é que devemos fazer nossa viagem do capital ao Verbo. Olhar as alturas partindo do chão. Essa ascensão nos chama. A de fazer uma viagem espacial pelo espaço psicológico. Igual a Gágarin a dizer que a ‘Terra é azul’, chegará um dia em que levantaremos nossa mente aos céus e diremos ‘o nosso Mundo é feito de um Verbo’.
O Clube dos Anjos sempre defendeu a tese de que um dia chegará quando os homens deverão começar a entender a presença de um Verbo na construção do Universo. No entanto, é importante que não confundamos as coisas. Na civilização em que vivemos, Deus não está acima de tudo, o que comanda é o capital. Portanto, é do capital que devemos chegar ao Verbo.
Talvez, como defensora do Clube dos Anjos, a secretária do MEC Iolene Lima esteja certa em afirmar: ‘Numa cosmovisão cristã, o aluno vai aprender que o autor da História é Deus, o realizador da Geografia é Deus. Deus fez as planícies, Deus fez o relevo, Deus fez o clima’. A questão é que os homens não têm carteirinha do Clube dos Anjos. O desafio humano está em como encontrar o Verbo a partir do seu chão capitalista.
Desde há muito que a civilização tomou independência do Clube dos Anjos e iniciou a construir sua História. Uma História que nos últimos 500 anos foi capaz de construir a revolução científica do século 16 e a seguir quatro revoluções industriais. Uma História que neste século 21 estabelece a criação a partir da dialética do conhecimento.
Somos pequeninos, mas determinados. Não somos anjos, vivemos a cometer erros. E, entre a terra e o céu, aqui estamos. Se quisermos subir aos céus, a nossa caminhada estará na dialética do conhecimento. A sua relação entre conhecimento e capital guarda o quanto mereceremos nos ascender ao Verbo. Ela traz a conversa possível entre a terra e o céu que tanto necessitamos.
Por MELK