A História é uma senhora misteriosa. Sempre desejamos conhecer seus caminhos. Caso contrário, caímos em descaminhos. E, neste ano 2019, ela revelou o Brasil. Fez aquele país do futuro, da alegria, do carnaval — mostrar sua cara.
Segundo o Relatório de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, o Brasil só perde em desigualdades para o Catar. Lá, o 1% mais rico detém 29% das riquezas, no Brasil 28,3%, e em terceiro vem o Chile com 23,7% da renda nas mãos de 1%. Nesta irrefreável desigualdade, parecia que a História estaria retratando a feição do Brasil. A surpresa é que não.
A História é mais sútil. Percebe as entrelinhas. Os acontecimentos de 2019 revelaram que a verdadeira face do Brasil é mais profunda. Numa Era do Conhecimento o país se volta ao Terraplanismo. Arraigado é o nosso apreço por polêmicas arcaicas. No lugar da razão a patacoada.
O Brasil surpreende a História e inventa a existência de uma Nova Idade Média. Esse período acontecido, entre a queda do Império Romano do Ocidente em 476 d.c e encerrado com a tomada da capital do Império Bizantino, Constantinopla em 1453 pelos turcos–otomanos, quem diria, renasce no Brasil. Estranhamente, o país do futuro resolve ser o país do passado.
Após 500 anos de acontecimentos, a Era do Conhecimento traz um novo momento para a Humanidade. O do cultivo da folha em branco. Uma longa jornada aconteceu até aportarmos neste momento. Tivemos que ultrapassar a Idade Média através da Renascença, e fazer acontecer a Revolução Científica do século 16, seguida por quatro Revoluções Industriais. Nós não, eles. Os últimos 500 anos do Brasil foram uma sucessão de diversos tipos de colonizações.
O país festivo sempre se achou incorporado a esse desenvolvimento ocidental. A sua elite acreditava que participava dos postulados desse progresso e seu povo integrado a esse processo civilizatório. É quando, neste 2019, o país resolve exercitar suas estripulias cognitivas. E, começamos a avistar que a dicotomia esquerda-direita não retrata o Brasil. Embora não faltem desigualdades, a sua vocação é o atraso.
Na sua eterna infância o Brasil é um eterno país de serviços e revendas. De infância passageira, diziam muitos em sua defesa, até que 2019 chegou, e mostrou, que o país vive uma Nova Idade Média. As ideias terraplanistas conquistam mais os corações e mentes de seu povo do que as da física quântica. Enganam-se aqueles a achar que o Brasil quer ser uma nação comunista ou capitalista. O seu âmago ainda está na Dark Age.
O grande engodo foi açudar por mais de 100 anos que a solução brasileira estava numa revolução comunista. Ideias mal locadas causam grandes desenganos. Não faltaram perseguições e mortes à pessoas altruístas. Ao final, escondeu-se que o Brasil não seria comunista nem capitalista. A questão brasileira é mais primordial. É um país que ainda não foi fundado.
Nascemos em 1500, contudo, sempre estivemos fora dos trilhos e o ano de 2019 foi promissor em revelar essa face escondida do país. A nossa perspectiva sempre foi de uma incipiente motivação cultural. Os nossos rumos não estão na esquerda ou direita, pouco adiantará mil catilíneas sobre a desigualdade. Nem a esquerda nem a direita inseriram a terceira revolução industrial (micro eletrônica, química fina) e nada farão a respeito da quarta revolução industrial (digital, fotônica). O Brasil 2019 mostra que a verdade do país deve ser a sua luta contra o seu obscurantismo. A nossa perspectiva sempre foi a de uma incipiente motivação cultural.
O ano de 2019 mostrou que as proezas de Prometeu não chegaram aos trópicos. A nossa desfaçatez com a chegada da Era do Conhecimento se revelou na indiferença com a produção de conteúdo nacional. Vendemos empresas como a Embraer, oferecemos a exploração do pré-sal aos estrangeiros e nos esforçamos para não participar da Industria 4.0.
O Brasil se revela. 500 anos depois, iniciamos a entender que não justificamos o tamanho territorial que nos foi concedido. Escolhemos o caminho da subserviência. A depender dos outros. Antes da desigualdade está a nossa capacidade de não acreditar em si. A não sermos transformadores da realidade. A nos adaptarmos a mediocridade.
Neste reino estamos. O obscurantismo nos atrai. Dele fazemos nossas parábolas. Nem humildade temos. Não respeitamos a chegada da grandeza da Era do Conhecimento. Achamos que somos um país tropical que não deve nada a ninguém. Vivemos numa Dark Age longe dos raios de uma Renascença. O ano 2019 revela que a nossa questão é a falta de destino cultural.
A Era de Aquarius chegou e o próximo reino é o do espaço psicológico. Essa é a História que a Era do Conhecimento projeta. A do percurso do homem ser retirado de sua mente. A mente humana, embora não possa enxergar, nem tocar, está implicitamente mais conectada com o nosso íntimo do que a nossa própria estrutura corporal.
— Como levar o Brasileirinho ao caminho da mente?
O Brasil ainda não sabe quem é…! Essa é a esperança que 2019 deixa para 2020!… O ano da ressureição…???…!!!
Por Melk