Somos todos ligados. Essa expressão vem da mãe Natureza e corroborada por todas as religiões.Contudo, a sociedade a decompõe. Constrói a civilização das desigualdades. O século 21 está doente.
O antigo refrão foi perdido. Os homens vivem separados. Cada um em seu caminho. Incorporando que a vida é um ato individual. Na sua ciência reducionista e política neoliberal enquadra uma visão onde tudo começa pelas partes. O todo ser um somatório das partes.
Neste espectro a civilização do século 21 se constitui. Perdemos o sentido de transcendência e totalidade que envolvem a natureza humana. Aprendemos que a solução da vida é nos tornarmos reducionistas convictos. A lei do cada um por si predomina neste Mundo de 7,7 bilhões de pessoas. A deixar cada homem subindo em seu ônibus sem perceber a direção comum que a todos guia.
Neste quadro de um reducionismo vencedor está a ordem mundial. Tudo seguia lógico, até que surgiu um vírus a mudar a face da civilização. Nada melhor que os germens para mostrar que estamos todos ligados. A relembrar que viemos de uma mãe Natureza e estamos numa mesma estrada terra-céu oferecida pelas religiões.
Estamos na época de Páscoa. O tempo do acontecimento mais inusitado da vida. A existência da ressurreição. A prova de que a vida pode vencer a morte. Um sentido profundo nos veio através de Jesus. Embora o entendimento da ressurreição seja distante a um mortal, abre a esperança. A acreditar que há um sentido às nossas vidas.
No entanto, uma distância separa Jesus e o homem. Um ser divino outro terreno. Jesus veio do céu para a terra para voltar ao céu. O homem nunca esteve no céu. Nasceu na terra, e curiosamente, trazendo o ímpeto da ascensão.
– Como subir ao céu? – os homens se perguntam
Das coisas da terra cabe ao homem fazer sua vida. Então, suas múltiplas atividades são conduzidas por um sistema de trocas denominado capitalismo. Enquanto Jesus orava somos obrigados a procurar o capitalismo. Ele governa a conduta do homem. Ao final do mês a remissão dos pecados está em fazer cada um pagar suas contas. O céu dos homens é não cair no inferno das dívidas.
O homem é um animal biológico com incursões mentais. A sua mente junto ao seu corpo cria visões de Mundo. Estamos sob os signos do reducionismo e capitalismo. Duas concepções a coibirem o homem de enxergar a totalidade e transcendência que o cercam. Entretanto não será por mãos humanas que a sociedade conseguirá se sobrepor a essa gravitação terrena imposta pela ação reducionista-capitalista.
Neste sistema estamos. O de privilegiar o individualismo e o lucro. A perder a generosidade com o outro e o cuidado com o planeta. A retirar o conhecimento de sua acepção de mistério e o enquadrar como mercadoria. Uma confusão a afastar o homem de suas origens com a Natureza e de seu destino apontado pela ressurreição de Jesus.
Embora numa civilização de alto poder tecnológico, estamos nas trevas. As visões religiosas, científicas, econômicas, biológicas foram desviadas. O lucro e a parte se tornaram os condutores dos caminhos. E assim caminha a Humanidade. Com esses dois prepostos para chegar ao final do mês.
– Como fazer a ressurreição do homem?
A Páscoa traz o momento do homem encontrar sua dimensão de transcendência e totalidade. Sair das questões cotidianas. Há um outro universo o esperando . Uma travessia a ser feita pela crucificação. Das dores do Mundo encontrar sua passagem.
O coronavírus chega para pregar o homem em sua cruz. A sua ressurreição está em se erguer do sistema reducionista- capitalista. Quando, ao final do século 14 a peste negra levava a devastação da Europa, Boccaccio escrevia o Decamerao; hoje, a expectativa é que a pandemia do coronavírus nos leve a escrever um novo contrato social. Subir alturas suficientes a enxergar os significados de espécie, estado, realidade, época digital, economia generosa, integração trabalho- conhecimento-capital.
As crucificações são indigestas. Mas, talvez a única possibilidade de mostrar que ‘ Outro Mundo é possível ‘.
Por Melk