A época se enquadra num momento de profunda crise. Contudo, não encontra sua quadra. Na visão de Gramsci, a crise acontece quando o modelo velho já não serve, mas o novo não está pronto para substituir o velho. Estamos num Mundo a procura de uma nova expressão de homem e política.
Estamos num vazio. Entramos na Era do Conhecimento sem despertar a causa do conhecimento. Observar que o conhecimento vai além da raiz quadrada. Descortinar seus valores de alma, de construção lógica, de riqueza econômica, de organização social. Discutir a capacidade de transformação do conhecimento.
Vivemos numa época complexa. Muitas praças acontecendo. As pessoas querem encontrar sua manifestação coletiva. A novidade será uma Praça de Conhecimento. Um lugar para se erguer uma voz cósmica ao progresso conquistado pela humanidade através da razão. Tempo para se dar vizão à razão.
Organizar a complexidade não é somente um assunto para os deuses como para as praças. Uma civilização se estabelece pelos direitos à cidadania. Permitir com que o cidadão tenha acesso aos direitos de emprego, saúde, conhecimento.
Neste contexto, o interessante é que a História entra na Era do Conhecimento, mas não consegue criar sua Praça do Conhecimento. Ninguém sai às ruas para reivindicar questões do conhecimento. Elas parecem distantes.
— O conhecimento vem do cultivo da folha em branco e não da terra! – o século 21 grita para a Idade Média
— Ninguém ouve!
Todos estão a ligar o celular. Muitos sem saber que, ali está um profundo pote de conhecimento. Uma magia de associações reunidas pela mente do homem a fazer aquela maquininha funcionar. Ao colocar seu dedo naquela tela um conjunto de interrelações é acionado. No entanto, para muitos, o conhecimento não seria um assunto de chamada popular. Os seus teoremas e equações trazem uma temática restrita. Não acessível ao cidadão em geral.
Portanto, compreender o que é o conhecimento é a primeira questão à Era do Conhecimento se impor. O conhecimento não chega apenas para manifestar um espírito no homem, como, para construir sua cidadania. Ajudar a levantar sua sociedade. A razão não anda sozinha. O seu fluxo é para construir o Mundo dos homens. Produzir compreensão, riqueza, emprego, bem estar.
Historicamente, estamos numa fase em que ainda condicionamos conhecimento em termos de educação. Não aprofundamos o seu significado. Existe um grande percurso acontecido desde Adão e Prometeu, até esse século 21 chegar a Era do Conhecimento. Maravilhas estão a acontecer devido a maturidade acontecida com o processo do conhecimento. Desbravamos do micro ao macro e precisamos entender o conhecimento além da educação.
— O que é o conhecimento? – perguntamos!
Estamos à espera de um discurso conhecimentista. Uma caminhada é necessária acontecer. Uma luta conhecimentista capaz de colocar o conhecimento como um dos elementos da conjuntura. Nesta praça devemos nos reunir. Não é apenas o celular, a época está a trazer diferentes fenômenos científicos, econômicos, sociais a dependerem do conhecimento.
— O que vai salvar a Humanidade da pandemia, a não ser o conhecimento capaz de gerar uma vacina?
Falta-nos refletir mais profundamente sobre o significado do conhecimento em nosso tempo. Observar como o cultivo da folha em branco se torna preponderante. Faz com que aconteçam cerca de 160 pesquisas de vacina sobre o coronavirus, a Apple produza uma riqueza de 2 milhões de dólares anuais, a educação remota 3.0 permita a possibilidade de Educação de Massa Personalizada.
— Tempos notáveis!
— Mas, sem reverberação política!
Sem dúvidas, o conhecimento está no ar. Mas falta torná-lo um assunto político. Sejamos realistas. Ainda não apareceu uma temática conhecimentista capaz de se apresentar sequer como utopia, e muito menos, como tendência política. Há um espaço à espera de ser preenchido. Uma caminhada a ser feita.
À época falta a construção de um discurso sobre o conhecimento. Algo abrangente. Dos tempos da ignorância, o Mundo evoluiu e chegamos à Era do Conhecimento. Tempos de inversão. Ao invés do conhecimento vir do céu para a terra fazer o caminho da terra para o céu. Inverter a polaridade de Adão e Prometeu.
— Escada do Conhecimento?
O novo momento está em levantar uma ponte terra-céu conhecimentista. Integrar educação-ciência-inovação-realigião. A partir da sala de aula elevar a mente do homem até uma realigião (ligação da terra com o céu a partir do conhecimento). Estamos redestinados a construir uma Torre de Babel. A diferença é que em nossos tempos as coisas devem acontecer a partir de uma praça. Do lugar em que a cidadania se manifesta.
A praça é o lugar para utopias capazes de gerar uma realpolítik. Ali o espectro do conhecimento aberto entre educação-ciência-inovação-economia-realigião deve ser discutido. Bandeiras serem levantadas. Contudo, o mais apropriado a uma praça não é discutir sobre o Reino dos Céus. O tema mais polêmico são os caminhos do capital. Saber conduzir o capitalismo dentro de uma argumentação conhecimentista.
A sociedade se reúne numa praça a discutir a formação de riqueza e suas desigualdades. Apesar da economia financeira estar sempre tentando mostrar que o capital anda sozinho, a riqueza não está no capital. A Natureza e o trabalho tem sido as bases para se construir a riqueza capitalista. Falta inserir a temática do conhecimento. Introduzir um discurso capaz de mostrar a ciência como provocadora de desenvolvimento.
— Como integrar conhecimento-capital-trabalho?
Nestes termos falta um projeto conhecimentista ao Brasil. A estrutura de desenvolvimento capitalista do país está baseada no extrativismo e rentismo. Desde a década de 1980 vem-se arrefecendo a participação do país na corrida para o desenvolvimento de ciência e tecnologia. O perigo é o Brasil perder o interesse em participar da Era do Conhecimento. Aceitar-se somente ao capitalismo de serviços e revendas.
— Como vencer o atraso?
O Brasil é um país à espera de ser guiado. Metade de sua população tem até 33 anos. Cerca de 10% na faixa etária de 65 anos. Portanto, uma população com pouca percepção do processo histórico. Poucos a contar que Maio 68 suspirou um movimento conhecimentista, mas não conseguiu ir além.
Sem visualização histórica, ninguém consegue associar que a ideia do Brasil fazer caixa por vender suas estatais, o empurrará ao abismo do não-conhecimento. Privatizações da Eletrobrás, Petrobrás conduzem o país a não participar das dúvidas do conhecimento. A se subordinar ao regime de Serviços e Revendas. A ser o país que não foi.
O Brasil precisa enfrentar a História. Decidir se irá participar da Era do Conhecimento ou não. Tirar seu cidadão da atual cegueira. Fazer sua praça. Encontrar sua loucura a dizer que Maio de 68 ainda renascerá no Brasil. Um dia, uma hora, promover a
— Praça Conhecimento Brasil!
Por Melk