Causa espanto a falta de defesa da ciência brasileira. Da parte do governo vêm tesouradas de cortes orçamentários. De parte da comunidade científica apenas lamúrias.

O Brasil não tem projeto desenvolvimentista baseado na produção de conhecimento. Não entende como a ciência e a tecnologia vem modificando a História. Desde a revolução agrícola há 10 mil anos atrás à revolução científica do século 16 e as quatro revoluções industriais que se sucederam, o país não criou seu discurso científico-tecnológico-econômico. Desde seu descobrimento aceitamos ser um país de serviços e revendas.

O país entende ciência como uma cromagem cultural. Está longe de entender que o avanço do conhecimento requer ir além da simples curiosidade. Exige uma estrutura. A de estabelecer a relação educação-ciência-inovação-economia. O Brasil não chegará a lugar nenhum se não entender essa integração. Estará a mercê da geopolítica internacional.

O Brasil não pode se afastar dos princípios da Era do Conhecimento. Cabe ao seu governo e sua comunidade científica oferecerem uma proposta. Existe um velho a ser derrubado e um novo a surgir. O país necessita participar dos alvires da economia do conhecimento. De um capitalismo em que o capital investe em conhecimento e conhecimento gera capital.

Acontece que não temos nem partidos políticos nem comunidade científico a introduzir a palavra conhecimento na conjuntura social. O curioso é que mesmo estando numa Era do Conhecimento não surgem vozes em defesa da produção de conteúdo nacional. Algo de errado está acontecendo. Os partidos a não compreenderem que países que deram saltos desenvolvimentistas investiram pesado em educação, ciência e tecnologia. Ao mesmo tempo, vivemos como uma comunidade científica iluminista a se colocar como vítima, os injustiçados da política.

Uma das características do mundo contemporâneo é a crise dos partidos políticos. Não conseguem expressar o novo momento histórico. Há um vazio partidário, seja à esquerda ou à direita, que não consegue estabelecer uma luta contra o atraso e a desigualdade baseada na visão conhecimentista. As discussões visam apenas o poder.

O país já possui uma massa crítica de doutores capazes de impulsionar as premissas da Era do Conhecimento. Entretanto, não conseguiram formular um discurso. Apesar de todo o investimento feito pelo país formou-se uma comunidade científica apática. Centrada em si não consegue elevar o conhecimento ao patamar do trabalho e do capital como os três elementos formadores de História.

A História atual requer uma nova leitura. Entramos numa Era do Conhecimento e estamos sem partidos políticos apropriados e sem uma comunidade científica revolucionária. Embora as tesouradas do governo sirvam de material de contestação, o que se vê é a passividade de abaixo-assinados.

A verba programada para a CAPES cairá a metade em 2020, passando de 4,25 bilhões de reais previstos em 2019 para 2,2 bilhões. O CNPq informou que só tem dinheiro até setembro para pagar as cerca de 80 mil bolsas ativas. O MEC anunciou a suspensão de 5600 novas bolsas de mestrado e doutorado, ao custo de 37,8 milhões de reais. E qual a resposta da sociedade brasileira? Sem partidos nem comunidade conhecimentista, nada se alcançará. Permaneceremos com o Brasil em sua Idade Média da Era do Conhecimento.

Por MELK