No ônibus, no metrô, no táxi, na universidade, na padaria, no supermercado, na farmácia, no samba. Por onde ando o assunto é um só: as eleições de 2018. Na sala de aula, não é diferente. Os candidatos à presidência da República estão sempre nas conversas dos meus alunos e alunas.
Carmen disse que a mãe vai votar no mesmo candidato que eu. Segundo o Arthur, seu pai votará no inominável. Indignada, Camille afirmou ser uma injustiça o que estão fazendo com o político que provavelmente venceria as eleições ainda no primeiro turno.
Ao contrário dos defensores da Escola sem Partido, não acredito em neutralidade. Tenho lado. Caminho de braços dados com aqueles e aquelas que são a favor da democracia, da justiça e da igualdade. Por meio das minhas ações e da minha escrita, luto pelo fim das opressões que afligem, sobretudo, os negros, as mulheres e os pobres.
Tudo isso não impede que eu proponha metodologias de ensino que tenham como finalidade pensar e discutir o cenário político atual, como também perceber de que maneira ele impacta em nossa vida. Posso fazer isso sem ferir a autonomia e o direito à livre expressão dos estudantes. Guiada pelo pensamento de Paulo Freire, parto do princípio de que é preciso fomentar uma educação para a “decisão, para a responsabilidade social e política”.
Desde o início do ano, tenho privilegiado atividades em grupo. A experiência tem me mostrado que além de realizá-las com mais entusiasmo, tal método contribui para o desenvolvimento do senso de responsabilidade entre os estudantes, além de fomentar a percepção de que nenhum colega deve ser excluído.
Desse modo, sugeri a formação de grupos em minhas turmas do 8º ano do ensino fundamental. Cada um ficará responsável pela apresentação das propostas de governo dos presidenciáveis. Em seguida, realizaremos um debate. Por meio dessa prática, pretendo fazer com que eles analisem as consequências do discurso de ódio adotado por alguns candidatos e o significado da política neoliberal defendida por outros. Pretendo ainda fazer com que eles avaliem quais candidatos apresentam um plano de governo que vá ao encontro das necessidades reais da maioria da população, que infelizmente ainda é formada por indivíduos cujo exercício da cidadania plena está longe de ser conquistado.
Na próxima semana, os primeiros trabalhos serão apresentados. Confesso que estou bastante ansiosa. Sempre me encanto com os saberes que os meus alunos e alunas trazem de casa e são capazes de construir. Nesses momentos, a professora cede lugar à mediadora, que ensina, mas também aprende. Estou certa de que teremos um debate longo e acalorado.
Ao propor essa prática pedagógica protagonizada por estudantes com idade entre 13 e 15 anos, me aproximo das proposições dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)s, que orientam quanto a necessidade de pedagogias voltadas “para a compreensão da realidade social e dos direitos e responsabilidades em relação à vida pessoal e coletiva e a afirmação do princípio da participação política.”
Segundo Philip Alston, relator especial da ONU, as medidas adotadas pelo atual governo, como a Emenda Constitucional 95 (EC 55), que congelou os gastos sociais por 20 anos, condenam toda uma geração à pobreza. Nesse sentido, as eleições desse ano terão um papel crucial para juventude desse país.
Embora ainda não votem, meus alunos precisam saber disso. Sendo assim, debater política em sala de aula é essencial. É imprescindível.
Luana Tolentino é mestra em Educação pela UFOP. Há 10 anos é professora de História em escolas públicas da periferia de Belo Horizonte e da região metropolitana da cidade. Suas práticas pedagógicas partem do princípio de que é preciso construir uma educação antirracista, feminista e inclusiva, comprometida com o respeito, com a justiça e com a igualdade.